sábado, 16 de agosto de 2008

Último ensaio na BlackBox

Sinopse
A primeira premissa que nos conduzirá como um cego que guia outros cegos é o desejo de usarmos o texto As Criadas de Genet como um guia de viagens, como um manual de instruções para a construção de situações do espectáculo, mas silenciando o autor, emudecendo o texto na medida do possível. O uso de textos com um travo de clássicos na sua formulação e nos conteúdos que tratam é um desafio que permite aprofundar perguntas como: O que é que significa hoje fazer teatro? Como se joga este jogo ou de que peças é feita esta máquina?
As Criadas é um texto que mais uma vez, me aproxima do tema da morte. Aqui a morte é multiplicada e omnipresente nas suas formas e presenças: a morte como uma metamorfose do ser em busca de si e dos seus limites; a morte como um atrevimento uma provocação que leve a exceder as próprias forças em busca de uma paz que não deseja; a morte como um ideal de transformação que dá extensão aos movimentos de inquietação da imaginação; a morte como uma imagem que transporta consciência de si; a morte como desejo de afrontar aquilo que mais se teme; a morte como expressão de um outro que habita dentro de nós e que desconhecemos; a morte como uma união com a nossa própria imagem.Será sobre o domínio de uma geometria do simbólico ou geometria significativa?

Citando as didascálicas de Genet: “Os encenadores deverão esforçar-se por conseguir uma deambulação que nunca poderá ser fortuita: as Criadas e a Senhora andam de um lado para o outro no palco desenhando uma geometria significativa. Não posso dizer qual deva ser, mas sei que essa geometria não se deve limitar a simples idas e vindas. Deverá inscrever-se como, segundo se diz, se inscrevem no voo das aves os presságios, no voo das abelhas uma actividade de vida, nos passos de alguns poetas uma actividade de morte.”Nos gestos e nos movimentos dos actores devem inscrever-se o quê? A vida? Uma transcendência para uma outra qualquer visão do mundo? Uma consciência que nos faça soçobrar e cair para dentro de nós mesmos experimentando sensações que nunca nos atreveríamos a fazer sem que nos empurrassem para tal? Nada? Apenas formas vazias que cada um desenha e utiliza como quiser? A morte? Na verdade não sei o que deve ter um gesto ou um movimento de um actor; mas atrevo-me a firmar que deve ser algo próximo da música, de um sentir que nos confronte a razão com o corpo, que nos permita espectadores do eu cairmos para dentro; que nos permita separar e imobilizar um gesto refazendo-lhe os sentidos possíveis; que nos permita começar a existir.
JGM

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Making of

Motivações, estratégias, confusões, crimes e paisagens
Dez Mandamentos
1. Uma história de que se fala, mas, que não se conhece: o relato de um crime, inspirado numa situação irreal que se torna real – por isso da qual, afinal-não-se-sabe-nada, o que acaba por ser melhor, para se exterminar e experimentar tudo, incluindo a paisagem e a boca de cena;
2. Uma história de terror e amor: de amor ao terror e de terror do terror; mas também de terror-a-todos-os-nervos-todos-os-amores com paisagens, desejos, cozinhas e polícias ao fundo;
3. Confessar e mentir - um processo activo de criação, uma técnica imperfeita sem-quase-nenhuma-técnica - um apelo à morte e às paisagens penduradas que se vêm nas cozinhas dos ministros;
4. Quebrar os ossos e o esqueleto do texto-da-peça-que-afinal-é-um-dínamo, rasgar os músculos, sopa-da-pedra e paisagens, tudo-ligado;
5. Três, três, três e os interiores culinários das paisagens selvagens-esta-sinceramente-não-a-percebo-mas-nasceu-assim;
6. Vingança, amor, traição, repetição, repetição, repetição, Vingança, amor, traição, repetição: quem é que se importa-se-não-for-importante? E, a paisagem agora definitivamente destruída, parece impossível, pois, como-é-que-se-faz-desaparecer-uma paisagem, e o-lixo-todo-que-isso-faz?
7. Um artista disse-de-todos-os-artistas: são uns mentirosos-impiedosos-pegajosos. Tu-és-um-artista, disse o-artista-que-o-estava-a-ouvir. Então, estás-a-mentir disse um artista jovem, que o estava ouvir, e-rápido-acrescentou, com-uma-lágrima-teimosa-e-um-grão-sem-bico-na-voz: artistas não são mentirosos, porque são artistas e dizem sempre a verdade. Porque dizem sempre a verdade? disse o outro artista; se assim é, ele estava a falar verdade, disse um artista qualquer, que ia por acaso ali a passar. Portanto, os artistas são verdadeiramente mentirosos quando falam e também quando estão calados, porque são sempre artistas ou não são artistas, ou não são mentirosos, disse um outro artista, um artista teórico, daqueles dos bons, com uma jornal-debaixo-do-braço, juntando-se à roda-de-artistas-que-os-artistas faziam, para se ouvirem, uns aos outros. Por isso, o artista que disse que os artistas são mentirosos estava a mentir, disse um grande artista que chagava atrasado, mas tinha um ouvido de artista, dos bons, e que não era tísico; ou não era artista, disse um, ou então estava calado e falou, disse outro, ou....! disse o artista invejoso, o que não parece possível, nem de artista, disse o artista tímido. Que confusão, disse um polícia, tantos artistas juntos, que até fico tonto. Se calhar era um artista-vigarista, disse um outro polícia, ou então podia ser um artista-paisagista-disse-o-ministro, que ia a passar e que não era artista, porque era-ministro-e-tinha-uma-colecção-de-artistas-pendurados-no-casaco-com-um-certo-ar-de-ministro-artista;
8. Ou então, é artista contorcionista-cosmopolitista, que faz paisagens-nas-palmas-das mãos-com-os-pés, disse o polícia número três, que tinha sido chamado para investigar a-roda-dos-artistas-à-roda;
9. Cretinice, cretinismo, cretino um, cretino dois, cretone, cria, criação, irmãos de criação, criada um, criada dois, criadagem, criadeira um, criadeira dois, criado, criada de dentro, rato, criada de fora, criado de mesa, cavalo, criado de quarto, criado de servir, criado para todo o serviço, boi, criado dois, bem-criado-mal-criado, criadoiro, criado mudo, criador, dar e entregar a alma ao criador, serpente, criança, criança de peito, criançada, criançalho, olálá, criancelho, criancice, crianço, criançola, pianola, criar, dar origem a qualquer coisa, a alguma coisa a partir-do-nada-de-nada-quase nada, fazê-la existir e sair-por-aí-fora, conceber. Uma paisagem, duas paisagens, três-artistas;
10. Criatura-dispositivo-crime-de-artista-paisagem-de-painel-com-paixão-sem-paixão-nem-país-de-artista-peganhoso-olha-à-langonha-que-também-sonha-morrem-todos.
JGM

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O Espaço - Quarto

Ficha Artística
Direcção - João Garcia Miguel
Tradução e Adaptação do texto - João Garcia Miguel, a partir de Les Bonnes de Jean Genet
Interpretação - Anton Skrzypiciel, Miguel Borges e João Garcia Miguel
Música - Rui Lima e Sérgio Martins
Figurinos - Ana Luena
Desenho de Luz e Direcção Técnica - Luís Bombico
Realização Vídeo - Edgar Alberto
Apoio ao Espaço Cénico - Mantos
Operação Vídeo - Miguel Nicolau




Produção Executiva - Marta Vieira
Registo Documental - Raquel Freire
Residência Artística - Espaço do Tempo
Convento da Saudação em Montemor-o-Novo
Estrutura Financiada por - Ministério da Cultura/ Direcção Geral das Artes/
Fundação Calouste Gulbenkian


João Garcia Miguel é artista associado do Espaço do Tempo.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

quinta-feira, 31 de julho de 2008

quarta-feira, 30 de julho de 2008